VI Ânima Mea - FICÇÃO-REALIDADE-NATURALISMO-SOBRENATURALISMO
Pergunto-me porque não gosto de filmes de ficção
e a única resposta que encontro é a de que não tenho paciência para o
Irrealismo. Quando jovem, tive vários ideais, que nunca passaram disso. Eram “montados”
nos sonhos que ia tecendo. Recordo-me do tempo em que marcava o alarme do meu
relógio para as 6h da manhã, para poder ficar a ‘sonhar’ até às 06h:45m, hora
exacta a que deveria levantar-me. Tenho ainda presente os sonhos que esperava
realizar, um por um.
Entretanto …,
O chão que pisei durante vários longos anos,
esteve sempre cheio de pedras que me magoaram muito os pés. Pedras reais,
pontiagudas. Aprendi a tentar defender-me delas e não foi nunca, na ficção, que
eu procurei camuflar as dores que ainda hoje sinto. Os meus pés ainda hoje
sangram, quando outras pedras vão surgindo, deixando-me magoada, ferida,
mas continuo com o ar de quem não tem mais medo de coisa alguma. A minha mente,
embora cansada, não está exausta. Não tem é espaço para passar do real ao
imaginário. Do imaginário só gosto do que os bons pintores passam para a tela.
Os ácidos que ainda sinto no estômago são
provenientes de frutos envenenados, amargos, que me convidavam a comer, em
qualquer ângulo, em cada esquina daquele mundo irreal em que sonhei. Eu os engoli.
Não importa porque fui atraída por eles, o que importa é que me envenenaram. Já
estou cheia de lições aprendidas em dias de tempestade e dor, mas ainda não
vislumbro algumas respostas que gostaria de ter conseguido, depois de tantas
reflexões sobre os meus porquês. O tempo urge e eu não sou senhora do meu
tempo. Já não terei mais idade para conquistar seja o que fôr, todavia, ainda
quero continuar a tentar metas e a dar, dar muito, porque eu amo os que me
estimam e os que sofrem. Continua a ser enorme a minha necessidade de olhar bem
para o chão em que caminho. Poderia pensar que já “não valerá colocar trancas
na porta quando a casa já foi roubada”, mas quero ainda aproveitar o que ficou
de bom.
Faço parte dum grupo que vive mal. No meu
viver mal não há lugar para males materiais. Muitas vezes me pergunto
porque é que a evolução do mundo não toma o sentido correcto. Talvez a resposta
esteja, exactamente, na existência de muitos frutos envenenados e de muitos os
tentados por eles. Os frutos que me tentaram, aparentemente responderiam
às mil perguntas que fui fazendo à vida, no sentido de encontrar soluções
para os problemas que me afligiam e que exigiam uma solução que só eu deveria
tentar encontrar, para poder viver. Embora a imoralidade e a indecência não
tivessem nunca feito parte da minha forma de estar na vida, em alguns frutos
que me foram oferecidos havia muito disso escondido, camuflado, aos quais
estava alheia. Apanhei semelhante indigestão, que toda a fé que pudesse ter
agarrada a mim, por muitos anos, foi dando lugar a um respeito enorme por toda
e qualquer religião, mas eliminou-me a fé em milagres ou qualquer tipo de
crença. Respeito a vida maravilhosa como descrita na biografia de santos, mas
excluí da minha mente a possibilidade deles fazerem milagres. Não sinto mais em
mim aquilo que me fazia acreditar, com fé, nessas coisas. A força de que
precisei e preciso para viver e encarar os desencantos ou mesmo para solucionar
os meus problemas, vou procurá-la na minha Natureza, aquela que me
comanda, embora exigindo de mim muito respeito por Ela. É Nela que eu tenho
encontrado resposta para muitas coisas que eu esperava me caíssem do céu,
quando era jovem. Há muitos anos que arregacei as mangas e parti para uma luta
feroz, por vezes impensável, por vezes irreflectida. Cada vez que empreendia um
novo caminho, abriam-se inúmeras portas, dando-me a honra de várias entradas.
Foi na sua escolha que nem sempre tive sucesso. Mas foi na minha calma
aceitação de que nada se faz sem um grande esforço – para o qual nem todos estarão
preparados – que eu aprendi a não desistir de lutar.
(Imagem de Miguel Letra)
Na Natureza não há ficção. Há, isso sim, uma
realidade que deve acompanhar-nos em qualquer momento, em qualquer instante, em
qualquer tentação. É que Nela, nós vamos encontrar a melhor cura para os males
do Coração, da Mente e do Corpo. Contudo, para que ela nos dê aquilo de que
precisamos......
- É urgente plantar novas árvores, que dêem frutos saudáveis.
- É urgente viver naturalmente.
- É urgente olharmos para o Universo e admirarmos
quanto tem de belo.
- É urgente colocarmos em nós a questão se
estaremos a retribuir com Amor, a beleza
da Vida.
- É urgente sabermos reconhecer o valor do que
de bom nos é oferecido pela Natureza,
para
que tentemos neutralizar o mal que possam ter-nos feito todos os frutos
envenenados.
- É urgente lavarmos as feridas deixadas em nós,
com tudo quanto a Natureza nos
oferece de salutar.
Maria
Letra
Comentários
Fico sempre encantada com sua sabedoria,realmente é urgente plantar novas árvores, que dêem frutos saudáveis, não venenosos. Lindo e verdadeiro seu texto!!!
Ótimo fim de semana!!!
Bjus
Bia