QUANDO SINTO QUE HÁ "MACAQUINHO NO SOTÃO"

 Não gosto de "macaquinho no meu sotão". Nunca nos demos bem. Gosto de acordar de manhã com a cabeça limpa daquelas preocupações que estão ali a ruminar, a ruminar, sem dar-me descanso. Por isso mesmo, quando acordo de manhã, a primeira coisa que faço SEMPRE, ainda com um olho aberto e o outro meio fechado, é interrogar-me para saber se há alguma preocupação que me perturbe o começo daquele meu dia. Isto é pura realidade. Se há, eu procuro, imediatamente, libertar-me dela fazendo aquilo que penso dever fazer. Nem sempre é fácil, porém, se sinto que esse "macaquinho" veio sem bilhete de regresso, mas eu arranjo forma de adormecê-lo, seja de que maneira fôr, nunca recorrendo, porém, àquilo a que chamo "analgésicos da consciência". Sim, porque estes analgésicos, teem prazo de validade de atuação e quando expira o prazo, deixam uma sensação, pelo que me dizem, de entorpecimento que eu não seria capaz de gerir. Gosto de saber bem onde estou e para onde devo caminhar.

Ora bem: então o que é que faço se o "macaquinho" não quer largar-me?

- Preparo-me, psicologicamente, para  refletir sobre as mais variadas formas de, eventualmente, resolver o problema, ou problemas, que me preocupam e, se acabo por encontrar alguma, ponho-a, imediatamente, em prática. Quanto mais depressa me libertar do "macaquinho", melhor trato o meu EU. Nunca me deixo adormecer durante a referida reflexão.

- Se não vislumbro qualquer hipótese de encontrar essa solução, deixo a busca para um momento de maior lucidez, fazendo tudo para que o "macaquinho" não fique ali a dar cabo da minha cabeça. Levanto-me da cama, tomo um bom banho, o meu pequeno almoço e saio para a rua. Ficar em casa, para mim, significa "encurralar" os problemas. Se não posso sair, o que só acontece se nevar ou houver vendaval para aquele dia, então a alternativa é esta:

- Sair da cama bem cedinho. Ficar na cama, acordada, é deixar que o "macaquinho" abuse da minha paciência.

- Tomar o habitual banho reparador de energias e um pequeno almoço que neutralize a preocupação, dando a mim própria o privilégio de comer qualquer coisa que represente um prazer, mesmo prevaricando um bocadinho (mas só um bocadinho). Por exemplo, comer uma boa fatia dum saboroso bolo, que tenha em casa. Se não tiver, então aí vou mesmo à procura dele. Já tenho optado por fazê-lo no momento.

3.º - Sintonizar a aparelhagem para uma música bastante rítmica, bastante alegre. Nunca música clássica, que adoro ouvir apenas em momentos muito particulares, tais como, depois de ter a casa toda organizada e nada 'pendente' na minha cabeça. Sento-me no sofá com um bom livro, a música em suave 'background' e aí fico eu, muito relaxada. Se o macaco do "macaquinho" tenta abusar da minha tranquilidade, aí tenho de encontrar alternativas, uma das quais, infelizmente, é a de "desabafar", armando-me em poetisa. Lamento dizer 'infelizmente'. É que, normalmente, só escrevo se estiver na ..., ora vamos lá ver ...., na ...., "mó de baixo". Encontrei o termo. Pensavam que iria usar outro? Enganaram-se.

Não tenho por hábito, quando estou com problemas e, portanto, preocupada, telefonar às amigas. Posso, eventualmente, falar com um dos meus familiares mais próximos, mas mesmo a esses, se o fizer, não lhes dou a conhecer a verdadeira extensão do meu problema. É muito normal em mim fechar-me no silêncio e não falar com ninguém. Consigo gerir melhor as situações, se não der preocupações aos outros, caso contrário sou invadida por mais "macaquinhos" e os que veem entram em conflito com os que já tinha, gerando uma confusão que me deixa com palpitações, pelas muitas perguntas que me ponho e pelos muitos debates internos, que tenho com o meu EU.

Isto tudo para dizer o quê? Que estava cá com um "macaquinho" no sotão que não queria deixar-me mas, com todo este "desabafar", acabei por encontrar a forma de sentir-me mais tranquila e determinada a dormir um sono tranquilo porque, amanhã, a solução virá, com certeza absoluta.

Maria Letra
Imagem de Stockvault.net