EDUCAÇÃO - Os "Fantasmas" dos nossos adolescentes

Três anos volvidos sôbre a publicação dum artigo que abaixo transcrevo, no blog SHVOONG.com, o problema subsiste e agrava-se.  Os fantasmas avolumam-se e, cada vez mais, fala-se de “ataques de pânico” e de tantas outras ‘lesões’ psicológicas as quais, na minha opinião, são resultantes da insegurança que nasce na criança, muito cedo. Se não antes, eles têm origem, normalmente, quando acontece uma alteração drástica na sua convivência diária com a família, ou por tantos outros fatores.
São muitas as causas que provocam esse estado na criança, contudo, penso que na base dele está a sensação de ausência de protecção, ou de abandono, que a criança sente quando se apercebe que a estrutura familiar foi abalada, seja pela necessária ocupação profissional dos pais, sobretudo da mãe, seja pela sua eventual separação, ou por outras necessidades de transição de vida que provocam nela desconforto agravado se, nessa altura, lhe falta o elemento justo para se ocupar dela, fazendo-a sentir-se protegida. Trata-se, portanto, dum problema que carece de cuidadosa observação.  Se essa ausência de protecção que, gradualmente, deveria passar a ser gerida por um orientador escolar,  continuar a não existir, muitas vezes o jovem procura uma comunhão de sentimentos ou protecção, na companhia dum amigo, ou de amigos, quantas vezes desaconselhável.
A minha longa experiência de mãe de 6 filhos e avó de 11 netos faz-me, muitas vezes, debruçar-me sobre as causas deste e doutros males, nos jovens. O meu objectivo é, tão somente, desabafar sobre elas, chamando a atenção de quem por aqui passar, para o texto que acima referi, o qual atraiu a minha atenção para um problema cada vez mais preocupante. Alongar este post com as muitas causas para este flagelo, em constante crescimento, exigiria uma detalhada exposição que não atrairia a sua leitura, nem são de minha competência. Deixaria, portanto, essa matéria, para técnicos especializados.  Eis o texto que referi:

"Em Pedagogia, muito se discute sobre metodologias de ensino. E métodos, há muitos, com cada educador (diretor/coordenador/professor) defendendo as razões pelas quais tal método é mais adequado aos seus educandos. Educadores famosos como Rousseau e Pestalozzi plantaram elementos de aprendizagem que influenciaram outros educadores mais contemporâneos: Montessori, Piaget e Freinet, por exemplo. A verdade é que não há um método perfeito para a educação das crianças e jovens, mas formas de educar, de encaminhar. E também não existe escola perfeita, senhora de si. Como dizia Paulo Freire (notável alfabetizador): "um dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada." E aí reside o maior problema, pois ninguém é senhor absoluto da verdade; o corpo docente também aprende muito com o aluno. Podemos seguir no caminho para a educação dos jovens nos utilizando de vários métodos, desde que sejam respeitados os limites de cada aluno e que o objetivo seja o mesmo, ou seja, permitir-lhes a possibilidade de adquirir conhecimento geral de qualidade, podendo depois demonstrar o seu aprendizado no dia-a-dia, as suas descobertas e averiguar a veracidade de outras. Ao permitirmos que os jovens tenham essa base, eles poderão, através de suas observações e pesquisas, preparar-se para a vida. É sabido que a formação do aluno deve ser gradual, crescente e evolutiva. Nós, a partir do nascimento, estamos livres para viver em sociedade, ainda que não estejamos preparados para isso. Ao contrário de um automóvel, que sai da linha de montagem perfeito para ser colocado em circulação, o ser humano estará sempre em aperfeiçoamento, num crescente processo de adaptação e aprimoramento. A formação dos jovens, portanto, dar-se-á a partir da convivência social, que os fará crescer e desenvolver-se continuamente, adquirindo noções de ética e cidadania, direitos e obrigações. Mas como educar nossos filhos? Como guiá-los corretamente na direção do melhor caminho? O que fazer para "modernizar" nossas opiniões de forma que sejam melhor aceites por eles? Qual deve ser nossa postura diante deles, como pais? Tais indagações permeiam diuturnamente nossas vidas e vagamos entre o certo e o errado, o possível e o talvez, o querer e o poder, o negar e o conceder e as crianças, "modernas" ao extremo, percebem nossas aflições e nos encostam no muro. Elas buscam, sim, respostas para os fantasmas que as amedrontam, estes mesmos fantasmas que nos perseguiam quando éramos adolescentes e para os quais não tivemos soluções. Hoje, o que em nós não morreu, mas apenas dormia, desperta em nossos jovens para colocá-los em discordância com o que julgamos politicamente ou socialmente correto.. E o que é certo, afinal? Um ato que ontem era considerado normal, hoje pode estar totalmente em desacordo com as antigas convicções. Afinal, a nossa vida ética é orientada pela nossa vontade, a vontade de aceitar ou negar o que nos é dito e o que nos é ofertado pela inteligência. Da boa ou da má vontade nossa razão será guiada, para a virtude ou para o vício. São concepções que devemos incutir em nossos jovens, orientando-os na educação da vontade, na moderação dos impulsos fortes e desmedidos, estabelecendo os limites entre o que queremos e o que podemos e até onde devemos avançar sem ferir o querer do outro. Os jovens devem ser orientados também para poder discernir entre o racionalismo e o emotivismo. O que não podemos é deixar tudo como está, ao sabor das ondas tempestuosas, com a juventude se deturpando, fugindo dos fantasmas _ tão comuns nesta fase da vida _ , fantasmas que já foram nossos e ainda são. Estes fantasmas talvez não adormeçam mais e, aí, a juventude estará cada vez mais perdida. E a culpa, a máxima culpa, será nossa."(sic)

Maria Letra
http://www.marialetra.com/
Imagens de Stockvault.net

Comentários

Manuela Araújo disse…
Olá Mizita

Escrevi um comentário enorme, mas como estou num portátil sem rato (o meu PC pifou outra vez antes do ano novo) apaguei sem querer, e agora falha-me a inspiração.
Mas começava assim:
"Agora acho que entendi o seu texto que teve de se sujeitar a apenas 300 palavras, com tanto para expressar"
E acabava assim:
"Será que a escola alguma vez pode ou deve substituir a família? Julgo que não. Se o mal maior da escola é o mal da sociedade, temos de tentar curar a sociedade, pois a escola educa, informa, transmite conhecimento e regras, mas é em família que a formação da personalidade ganha a forma"
Mas acho que já dá para entender o que queria dizer :)
Beijinhos
Maria Letr@ disse…
Olá Manuela!
Passei a agradecer as visitas que me fazem, deixando um comentário no blog de quem as faz. Desta vez, porém, impõe-se responder-lhe agradecendo e dizendo o que, aliás, já conhece do que defendo:
Se queremos uma sociedade renovada, acredito devamos ir ao âmago dos problemas os quais, na sua maioria, estão localizados, exatamente, no seio familiar. Consequentemente, nunca poderei defender o recurso a “remendos” se estes não forem acompanhados dum programa de alteração de mentalidades e costumes no seio familiar, caso contrário corremos o risco desses mesmos remendos não surtirem o efeito desejado. Tal como referi algures, admito devamos recorrer aos tais remendos se, simultaneamente, fôr cumprido um programa de transformação radical da sociedade, no qual a criança estará no centro das nossas preocupações, pois a criança de hoje será o adulto de amanhã, o grande responsável pela continuidade dum processo iniciado com ela.
Se é verdade que, sem dúvida alguma, a escola tem um papel duma importância que não deve, sequer, ser posta em causa, uma vez que é nela que a criança passa uma grande parte do seu tempo, também é verdade que todo o trabalho nela desenvolvido pelos professores ou mesmo orientadores dos alunos não resultará em pleno se a criança, ou o adolescente, ao regressar a casa, reencontra os tais pôdres que vão provocar um contínuo retrocesso na sua evolução para cidadão responsável e consciente.
Mesmo achando duma importância enorme as outras três propostas, terei de ser convencida de que recorrer a remendos, aqui e ali, irá resultar. Respeito, contudo e SEM DÚVIDA, a importância das 3 propostas apresentadas e o mérito de quem as elaborou . Não tenho, nem nunca tive a pretensão de fazer prevalecer a minha proposta como a mais aceitável. Espero que todos entendam isso.
Um beijinho.
Leonardo Garrido disse…
Cara Maria Letra, bom dia!
Acabo de conhecer o seu sugestivo Letra-Sem-Tetra e de imediato me encantei com o conteúdo nele publicado, tudo relevante e bem elaborado. O texto acima, do poeta brasileiro Remisson Aniceto, eu o li há muito tempo no Blog Nosso mundo e de imediato entrei em contacto com o autor, que respondeu-me e desde então trocamos e-mails de vez em quando. Este artigo "Educação - Os Fantasmas da Nossa Adolescência" deverá ser publicado na conceituada Revista Linha Direta Educação na edição deste mês de julho, em reconhecimento à importância deste texto.
Sem educação não pode haver progresso em nenhum setor, não existirá a plena democracia, não haverá o respeito aos direitos de todos, especialmente aos direitos da criança e do adolescente . Este texto, sem agredir diretamente este ou aquele, sintetiza como nenhum outro o grave problema que marca a educação e os comentários aqui postados são de pessoas realmente envolvidas com tais questões.
Um abraço e obrigado pela oportunidade que tenho de conhecer este agradável e inteligente blog.
Leonardo Garrido
Maria Letra disse…
Caro Leonardo Garrido,
Muito obrigada pela sua visita e pelo seu comentário.
Embora não sabendo de quem se trata, pois não consegui ler qualquer coisa que o Leonardo possa ter escrito através do qual me seja permitido identificar melhor quem está de acordo com algo que defendo, eu fiquei muito feliz com o que escreveu. Comentários apoiando o que penso estar na base da eventual correção duma má formação, funcionam como que uma luzinha que vislumbro algures num túnel cujo fim me parece inatingível. Será na análise conjunta duma série de muitas outras sugestões, que poderá ser encontrada uma solução para os problemas com que a criança e o adolescente, conscientes ou não, se debatem num mundo em 'turbulência.' Obrigada, portanto, mais uma vez.
Quanto à eventual publicação deste texto na revista "Linha Direta Educação", terei muito gosto em publicá-lo. Farei sempre tudo o que me seja sugerido no sentido que pretendo: contribuir com a minha experiência para um objetivo comum a tantos: Formar um Mundo Melhor.
Aguardarei que, amavelmente, me dê uma pista que o identifique.
Anónimo disse…
Bom dia a todos!
Passei agradáveis momentos de leitura e aprendizado neste blog, de conteúdo rico, inteligente e recomendo desde agora aos meus amigos educadores. O autor do texto, Remisson Aniceto, além de se interessar e escrever valiosos artigos sobre educação como este acima, também nos brinda em vários sites e revista literárias, com uma poesia de grande beleza, contos e resenhas que são dignas de comentários imclusive de autores famosos como o Loyola Brandão e Celso Antunes. É muito bom ver que mais um texto dele divulgado e discutido em tão interessante blog como este.
Um abraço da Mônica.
monicasald@bol.com.br
Maria Letr@ disse…
Muito boa tarde.

Agradeço a visita que fez a este meu blog, bem assim como o comentário que aqui deixou.

É sempre muito agradável saber que - pelo menos - mais alguém se interessa pelo tema 'Educação'. A despeito dos esforços que se vão desenvolvendo no sentido de colocar os educandos "on the right track", afigura-se-me cada vez mais difícil encontrar métodos que possam ajustar-se à evolução que o mundo está a tomar, uma vez que defendo que essa colocação seja extensiva aos genitores. Quanto a mim, o problema base reside, maioritariamente, na família da criança e, a avaliar pelo que está a passar-se no mundo, não será fácil. Sou acérrima defensora de que, antes (ou paralelamente) de virarmo-nos para os professores, há que virarmo-nos para os pais da criança. O professor não conseguirá "levar a carta a Garcia), se não olharmos para o que se passa no seio da família, quantas vezes duma gravidade tal, que 'brada aos céus'. Não é, contudo, impossível e é nessa perspetiva que continuarei a escrever sobre este tema, mesmo que ignorada.

Reitero os meus agradecimentos.

Maria Letra

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