OS JOVENS DESTE TEMPO E O PROBLEMA DO CONSUMO DE ALCOOL E DE DROGAS, INCLUINDO AS LEVES, TAL COMO, POR EXEMPLO, A CHAMADA "MACONHA"
AS MÁSCARAS QUE ESCONDEM GRANDES DRAMAS , NUM INDIVÍDUO
EM SOFRIMENTO
Cresce, dia após dia, o
número de jovens que recorre ao álcool e à droga, como forma imediata de
ultrapassarem certos estados de alma, cuja causa nem sempre é fácil de
identificar, seja pelo próprio, seja por técnicos cuja aplicação no estudo
desta matéria é já longa. Recorrem ao uso destes dois inimigos da consciência
humana, normalmente, os indivíduos de sensibilidade, eventualmente, mais
frágil, refugiando-se numa ‘atmosfera mental’ provisoriamente “à defesa”,
arrastando-os para uma progressiva inapetência para viver. No início, tudo lhes
parece fácil. Bebem uns copos, ou fumam umas ‘ervas’ e tentam sobrepor-se à
causa que os incomoda e que lhes provoca uma angústia que, de algum modo, não
querem enfrentar. O argumento para o seu uso, é-me muitas vezes dito ser o de
“sentirem-se melhor”. Claro, nem duvido. E depois? Eles estão absolutamente
convencidos de que não prejudica mesmo... “Até faz bem”, dizem eles muito
seguros, com aquele ar de que sabem mais do que os outros, uma característica
que os distingue... Sei – sem qualquer sombra de dúvida – que há jovens, (e
adultos!!!), aparentemente de “mens sana in corpore sano”, que estão agarrados
às delícias dessa tal “maconha” - para não referir outras - e que, portanto,
passariam a odiar-me se lessem este meu texto. E se realmente, por mero acaso,
o lerem, (porque o título tem esta palavra mágica nele inserida) irão fazer de
conta que não leram e odiar-me-ão na mesma ou, simplesmente, chamar-me-ão um
qualquer nome que não me ocorre, pois são nomes mais usados por eles. Mas isso
não me move, nem me comove.
Dói-me saber que, não
abandonando esses vícios, esses jovens avançam, a passos mais ou menos largos,
para uma vida de sofrimento cada vez maior e, eventualmente, para uma morte
prematura. Eles não têm a percepção, no tempo, de que os conflictos que começam
a sentir têm a sua raiz no uso de simples “passas” deliciosas de “maconha” que,
muito lentamente, vai-lhes alterando a personalidade..., até porque não lhes
convém perceber isso e, portanto, contestam quem tenta chamá-los à razão. Atrás
da droga, passam a existir certas preferências de cariz sexual, etc. e tal.
Trata-se, indubitavelmente, de um processo penoso, não só para quem o vive,
física e psicologicamente, mas também para os que assistem a ele. É um abismo
que se abre inexoravelmente fundo para ambas as partes, quantas vezes muito
pior para os que assistem à sua progressiva abertura.
Cada vez mais, bebe-se e
usa-se drogas em todo o mundo. Isso deu origem a muitos outros males que viajam
paralelamente, sem ver-se o fim dessa estrada. É por isso que eu defendo
tratar-se de um problema que necessita de ser olhado com urgência, através de
medidas que o combatam na raiz. Deveria, consequentemente, não estar limitado a
um estudo do indivíduo, isolado, mas sim de uma sociedade em decadência
absoluta. Esta minha convicção não exclui uma simultânea e atenta análise à
forma como vive a família do jovem em risco, para serem tomadas em consideração
medidas de protecção adequadas, pois é no seio familiar que, numa grande
maioria dos casos, vamos encontrar a causa do seu comportamento. Não é raro
sermos nós os grandes culpados. Naturalmente que não se pode começar a formar
novos cidadãos, negligenciando o importante estudo dos seus ascendentes, os
quais não deveriam ser deixados à deriva, neste processo, sem uma correcta
orientação. Se defendemos a reconstrução deste mundo, que não nos agrada, de
forma alguma, deveremos fazê-lo através dum trabalho paralelo: escola e seio
familiar, caso contrário assistiremos a um trabalho infrutífero, desnecessário.
Tenho consciência, ao dizer isto que, durante a recuperação, reconversão ou
mesmo reinvenção de certos valores, caminharemos, lado-a-lado, com aqueles que
irão pretender fazer frente à alteração daquilo que não lhes convirá ser
alterado, mas a nossa força deverá ser superior à deles. Refiro-me, por exemplo,
ao “mundo obscuro de interesses” de organizações nada interessadas em que
certos males acabem.
Mas continuando...
Terão de ser encontradas
fórmulas de motivação para um maior respeito pela Natureza e pela convivência
saudável entre todos, fórmulas essas que deveriam ser aplicadas a partir do
nascimento, através de adequada assistência técnica de orientação apropriada,
dada por elementos habilitados para o efeito, os quais deveriam ser, eles
próprios, um exemplo daquilo que se pretende para a formação de um “novo
cidadão”.
Lamento que uma boa
maioria de crianças seja, muitas vezes, vítima da necessária ausência dos pais,
o que pode ser a mais grave causa para situações de insegurança e fragilidade,
pois – como que de repente – a partir duma certa idade, é-lhes retirada aquela
protecção e segurança a que as habituámos. Isso faz-me muita pena. Não será que
a criança passará a sentir que pode ser culpada da razão pela qual deixa de
continuar a ter essa potecção? Será que, mesmo explicando, a sua fragilidade
irá aceitar a justificação, ou justificações que lhes damos? Não esqueçamos que
a criança entra na pré-primária muito cedo e que a mudança faz-se de um dia
para o outro. Tenho assistido a verdadeiros dramas, em que a criança sofre e
chora desesperadamente, deixando-nos em sofrimento, também, sofrimento esse que
‘tentamos’ ocultar com a nossa determinação de ir em frente com o projecto de
educação que nos é imposto pela exigente sociedade em que vivemos. Este
processo deveria ser lento. Terei de ser muito bem convencida por quem saiba
muito sobre esta matéria, se não será aqui que começa um processo de afirmação
da personalidade na criança, “coxo” logo à partida, fragilizando-a para sempre.
Se há crianças que, pelo que herdaram, geneticamente, dos pais, são fortes,
outras há que - também pelo mesmo motivo, ou outros, em ambos os casos – ficam
muito marcadas, psicologicamente.
Sei que é muito difícil
para os pais – e eu que o diga como mãe de 6 filhos e avó de 11 netos –
estabelecer as doses adequadas de amor e de exigência, sendo estas marcos
importantes na sua formação. E a situação torna-se – como no meu caso –
incontrolável, de certo modo, quando agravada por um divórcio.
Os pais deveriam ser
convenientemente orientados por técnicos à altura, no dia em que decidissem ter
filhos e só uma correcta formação das pessoas designadas para esse efeito,
poderia levar os pais e as crianças ao reconhecimento saudável dos mais
elementares deveres de cidadania, em todos os sectores, afim de ser conseguida
uma progressiva melhoria da forma como vivem as pessoas, neste novo mundo que
se deseja em transformação, para bem de todos.
O”desabafo” que acabo de
deixar aqui não defende qualquer tipo de atitudes de prepotência ou de
imposição, pois deixaria de ter o significado que se pretende: a formação duma
sociedade onde cada elemento saiba respeitar os outros através duma doutrina de
amor, o que só é possível se cada um tiver uma perfeita consciência dos seus
deveres para consigo e para com os outros.
Maria Letra
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