Conversando "Olhos-nos-Olhos" com a Idade
Por muito esforço que faça, não consigo entrar na moderna 'onda' de dizer que não estou nada preocupada por estar a envelhecer e que me sinto uma jovem. Mentiria se o escrevesse. Posso dizer, porém, que evito pensar nisso, mesmo quando me olho ao espelho e vejo, estampadas no rosto, as rugas que muito sofrimento, mas também muitíssimas alegrias, denunciam, do meu passado. Para quê preocupar-me se nada irá devolver-me a felicidade de outrora, quando acreditava que ainda tinha muitos anos para viver intensamente? A realidade mostra-me, isso sim, que hoje devo programar-me no sentido de fazer aquilo de que gosto, vivendo tudo, com grande intensidade e alegria, sabendo que cada dia que vivo representa um presente que a Natureza, que nunca substimei, me oferece.
Eu amo a vida, amo a minha família e vivo cada mau momento das suas, com uma intensidade que me queima a alma. Adoro os meus netos e vivo, passo-a-passo, cada sonho deles, como se lutasse para concretizar os que nunca consegui realizar. Não me canso de apoiá-los a fazer aquilo a que aspiram chegar. Luto, com enorme prazer, lado-a-lado com eles, mesmo quando o faço em silêncio. Este silêncio, que respeito muito, é resultante de eu dar a minha opinião, apenas SE solicitada e, aí, terão sempre de aceitar, ou rejeitar, pois não gosto de dizer aquilo que não penso.
Vivo cada momento em que procuro actualizar-me, com grande felicidade e força, fazendo-o no sentido de - mais do que manter-me na rectaguarda - estudar para poder caminhar ao lado dos mais novos, para poder acompanhá-los e ajudá-los na estrada que escolherem. Quando falham, aí encontro um grande problema, porque sinto que parte de mim morre, pela incapacidade deles de aceitarem que poderiam evitar um grande número de situações se soubessem escutar, sem considerar que a posição dos mais velhos é sempre uma posição retrógrada, antiquada. Poderiam evitar dar com a cabeça nas paredes, se soubessem escutar e, eventualmente, contraporem aos conselhos que os mais velhos lhe dão, a sua própria opinião.
Tendo feito tudo quanto a minha situação doméstica mo permitiu, dói-me a alma quando vejo que os filhos optaram por seguir uma alimentação diferente daquela que defendo - sem entrar em extremismos - ou cometendo exageros que só os prejudicam. É que eu tenho momentos em que esqueço uma frase escrita por José Saramago: "Filhos são do mundo". Nas suas vidas, só uma coisa me preocupa e me tira o sono: a saúde deles. Todo o resto faz parte daquilo que aspiram, ou podem ser e, nesse campo, não entro. Se sou assaltada por este tipo de preocupações, quando algum está menos bem, para não ter de tomar comprimidos para dormir - coisa que nunca fiz - ligo o computador e adormeço ao som duma linda interpretação de Alexandra Burke, Leona Lewis ou outro qualquer bom interprete. Nunca procuro ouvir a minha neta, porque isso não me ajudaria a esquecer preocupações.
É verdade que, hoje em dia, ninguém sabe se está a seguir o melhor caminho, para proteger a sua saúde. Quase não acredito em ninguém. O fanatismo do lucro faz-me duvidar de cada coisa que compro. Não querendo, porém, exagerar, embora lendo sempre a composição dos alimentos e suplementos alimentares, procuro aquilo que penso responder aos meus desejos no que diz respeito a alimentação, sem castigar, demasiado, a minha saúde. Previdente, sim, fanática, não.
Sempre fui uma mulher cheia de interesses e mil ocupações. Uma boa parte do meu tempo, passo-o estudando. Em Janeiro, começarei um curso que desejo tirar há muito tempo. Sem qualquer respeito pela minha idade, vou fazê-lo frequentando a mesma escola que frequenta gente mais jovem, tendo já programado iniciar um outro em Maio. Se pensam que eu tenho a ilusão de convencer-me, sequer, que irei conseguir, enganam-se redondamente. Eu nem sequer admito perder um segundo a pensar nisso. Irei, simplesmente, colocar-me no lugar a que terei sempre direito: seguir os meus sonhos, independentemente da minha idade. Chamem-lhe ridículo, chamem-lhe o que quiserem. Não desistirei, enquanto tiver saúde. A par destes dois cursos - pintura e desenho do corpo humano - adoraria estudar Medicina Alternativa, mas não sei, ainda, se conseguirei, pois não poderei distanciar-me muito de casa.
Acompanha-me, logicamente, uma realidade que não descuro: a da minha percepção de que, daqui a muito poucos anos, estarei menos apta a fazer tudo aquilo que - tenho a certeza - vou desejar continuar a fazer. Por agora, as minhas articulações continuam a funcionar muito bem., para a minha idade. Para isso contribuirá, talvez - para além da minha alimentação - os exercícios diários que não negligencio. Quanto ao problema que preocupa tantas pessoas da minha idade e mesmo mais novas, é a perda de memória:. Aqui talvez seja mais difícil avaliar, porque sou conhecida, desde pequenina, como o ser humano mais distraído do planeta. Tenho uma sobrinha que sempre disse que eu me distraía porque pensava demais. Reflito muitas vezes nessa sua opinião, porque é uma realidade que a minha cabeça não deixa de pensar, cada minuto do meu dia-a-dia. Mas tenho de admitir que a minha memória tem já uma certa dificuldade em repetir, minuciosamente, um filme. Seja porque me perco demasiado no detalhe, como Virgem que sou, de signo, seja porque me escapam certos pormenores, na minha preocupação de perceber bem o que estou a ver ou adivinhar qual vai ser o seu fim. Mas não me deixarei vencer por esta preocupação, comum a tantas amigas minhas. Prefiro não dar confiança a essas fraquezas da idade. Há momentos em que, certos 'flashes' de memória, fazem-me acreditar que tudo estará operacional e, portanto, não perco tempo com este pormenor.
Termino com uma frase que costumo dizer: "Ser velho não significa deixar de sonhar, poderemos é não saber já, muito bem, qual dos sonhos é prioritário."
Maria Letra
Comentários
SEGUNDO O QUE LI, A AMIGA CUIDA-SE, É ACTIVA,ENÉRGICA,MEXIDA...CULTA.AMA E É AMADA PELA FAMÍLIA, VIVE INTENSAMENTE OS PROBLEMAS E AS ALEGRIAS... SÃO PONTOS QUE A EMBELEZAM E DÃO-LHE UMA EXECELENTE QUALIDADE DE VIDA .
BEIJO E CONTINUE ASSIM,IGUAL A SI PRÓPRIA
Vou fazendo e dando o melhor que consigo de mim mesma.
Um grande abraço.