O meu comentário ao texto do Prof. Urbano Tavares Rodrigues


 Ex.mo Senhor Professor Urbano Tavares Rodrigues,

Sou uma qualquer cidadã Portuguesa, residente em Londres, não por mero desejo de viver no Reino Unido, onde estudei quando jovem, mas por imposição do meu amor a uma vida digna. Em Portugal arruinei-me, financeiramente, posso dizer por dois motivos: por não ter sabido definir o que era prioritário e por ter confiado na minha traiçoeira convicção de que toda as pessoas têm aquilo a que se chama uma “mens sana in corpore sano”.  Feito este intróito de apresentação pessoal e porque só hoje li o “preciso e conciso” texto que escreveu, eu gostaria de levar até V. Ex.ª, se me permite e tem paciência suficiente para lê-lo, o meu desabafo.

Compreendida a primeira parte do Seu texto, com a qual, obviamente, estou de acordo e não querendo comentar sem generalizar o que está a passar-se em todo o mundo, passaria à parte do texto na qual se pergunta porque estará o Primeiro Ministro José Socrates, ainda, no exercício das suas funções. Quanto a mim, Sr. Professor, ele continua no lugar que lhe foi dado por votação porque – seguramente – sente as suas costas bem quentes. Ninguém, repito, de “mens sana in corpore sano” aceita uma tal situação “pôdre”. O problema é que os cidadãos de mente sã, ou serão em considerável minoria em relação aos que, de mente doentia, fazem parte integrante duma parte corrupta da nossa sociedade ou, então, serão em maioria, mas uma boa percentagem deles, pura e simplesmente, não quer meter-se em problemas, seja por uma questão de idade, seja por uma questão de comodismo, de desmotivação, ou por outra qualquer razão.

Não estou a escrever para ensinar-lhe seja o que fôr, Senhor Professor. Quem me dera ter uma ínfima percentagem dos conhecimentos de V. Ex.ª. Estou, muito simplesmente e concordando com tudo o que escreveu, a desabafar como cidadã que sofre por ver o mundo tomar o rumo que está a tomar. Quanto a mim, esperando que aceite a minha humilde opinião, a base de toda esta aceitação generalizada das pessoas, está no hábito que se instalou, assustadoramente, de se manterem indiferentes, resignados ou mesmo desmotivadas, por estarem já saturadas pelos, embora consequentes, dramas familiares que as afligem. E José Socrates aproveita-se disso. Ele sabe que o que o povo quer é ouvir lindas palavras que, por tão lindas e tão bem adaptadas aos seus discursos, deixam uma grande maioria das pessoas a exclamarem, cheias de benevolência: “Deve ser verdade! O homem não iria dizer isto se não fosse verdade!”. Pois, mas é que a “verdade” do supostamente eng. José Socrates, não engana os mais atentos e os mais informados.

Sabemos que levaria muito tempo a reestruturar a formação dum povo, Senhor Professor. Sabe disso muito melhor do que eu. Teríamos sempre de reformar os adultos e saber escolher, entre os melhores, quem deveria estar à frente do ensino e da educação, dois pilares prioritários e fundamentais para atingirmos, não direi a perfeição, mas uma forma de vivermos felizes. Quanto a mim, é nestes dois pilares que reside a solução para as terríveis causas deste flagelo que devassa o mundo, tais como:

- uma deficiente educação dos filhos no seio familiar, por falta de condições básicas de vária ordem.
- má organização escolar, que deveria estar direccionada para o cumprimento de regras básicas capazes de formar, convenientemente, os cidadãos de amanhã. Seria longo enumerar, aqui, toda uma série de situações deploráveis, para o conhecimento duma das quais, bastará analisar como um bom número de jovens se comporta dentro ou fora do estabelecimento de ensino ou mesmo como escreve. É inadmissível ver que alunos que frequentam já a universidade, escrevem “voçe” desta forma, por exemplo.

- absoluta falta de controle na situação ligada ao consumo de drogas, onde há escândalos imperdoáveis, a todos os níveis. Pergunto a mim mesma se não estará aqui o núcleo do problema que aflige a humanidade e que, cada vez mais, faz com que possamos acreditar, apenas, no futuro duma minoria de jovens e não no que possa ser o duma enormidade dos que consomam todo o tipo de “controladores de consciências”. Quantos serão os que, com responsabilidade absoluta na educação e em outros altos cargos que lhes foram atribuídos, sairão ilesos desta minha suposição.

- Depois, recordo o nosso maioritariamente bem desejado 25 de Abril e o “Socialismo em Liberdade”,com alguns grandes inconvenientes. É que deveria ter-se em consideração, quando lançamos slogans, de que nem todos têm um elevado grau de cultura e que, portanto, este socialismo em liberdade poderá sempre ser interpretado como “vale tudo menos tirar olhos” (passe o termo). Como mãe de 6 filhos, depois do 25 de Abril, passei a ter o cuidado de ver se, na paragem de autocarro – para referir um exemplo concreto - onde estivesse com eles, não haveria um qualquer quiosque com revistas expostas, bem viradas para o público (havia que aumentar a venda do que mais atraía a atenção dum certo público), já que a liberdade, interpretada à sua maneira, permitia-lhes expor gravuras da mais ignóbil pornografia, que deveria ser mantida fora do alcance dos menores. Para além disso e para piorar a situação, há hoje a possibilidade que muitas crianças têm, por exemplo, com pais que trabalham, de ter acesso a uma internet que, por sua vez, oferece tudo, duma forma simplicíssima, a todos aqueles que a pesquisam.
- Etc., etc., etc..

Expus o meu desabafo. Não sei se devia ou não fazê-lo. Sei, apenas, isso sim, que senti a necessidade pessoal de “desabafar”. Peço perdão do tempo que possa ter-lhe ocupado. Bem haja, Professor, pelo seu exemplo de cidadão atento!

Maria Letra Tomé

Comentários

Mensagens populares deste blogue

MAIS UM TEMA PARA REFLECTIRMOS